Depois da invocação às musas, Dante considerando a sua fraqueza duvida de aventurar-se na viagem. Vergílio porém, dizendo que Beatriz foi quem o mandara e que havia que se interessava pela sua salvação, determina-se a seguí-lo e então com o seu guia entra na difícil estrada.
Texto do Tradutor.
Terminara o dia; sob a névoa da noite, todos os animais da terra estavam adormecidos; somente eu velava. Preparava-me para a batalha, assim como o artista se prepara para pintar de memória a Piedade, procurando não errar em nenhum detalhe. Então falei para mim mesmo: "Que o pai de Silvio (Eneias) tenha sido levado aos infernos de corpo e alma pois assim quis o Eterno que inimigo é de todo o mal, sendo isto permitido por justa causa por tratar-se do homem que buscava construir a glória de Roma e de seu Império, que seriam na verdade, lugares santos, destinados pelo Céu ao trono de São Pedro e de todos os Pontífices, por esse motivo pode ter sido aceito. Lá esteve também Paulo ainda em vida buscando confirmação em sua fé, princípio este decisivo para o caminho da salvação... E eu, por que irei? Quem exige de mim tamanha e tão penosa jornada? Por acaso sou eu Enéias ou Paulo? A essa aventura, nem eu nem ninguém acredita me tenha sido imposta. Receio pois seja um ato de loucura aceitar eu resignado essa aventura!" Mas logo em seguida voltando-me para o Poeta, digo: "És sábio; esqueça então o que digo em momento tão aflito". E a cada nova idéia que à minha alma se apresenta, ora ela aceita ora despreza, mostrando indiferença aos seus desígnios.
Assim acontecia comigo naquela tenebrosa encosta da montanha, porque pensando melhor rejeitava o propósito formado às pressas de abandonar essa missão; atitude essa que agora me desgosta. Então naquele momento, escutei do meu Guia a sua voz vinda das sombras;
"O que disseste compreendo; contaminado estás por desprezível sentimento que muita vez faz do homem alma covarde, desviando-o das ações honrosas qual sombra que ao corcel trava-lhe o trote". E continuou: "De repente senti que me encontrava sobre o Limbo; porém auxiliado fui por tão bela Dama, tão graciosa, que as suas ordens rapidamente obedeci; seus olhos brilhavam mais que estrela radiosa; com voz de anjo falou-me piedosa: "Cortês alma mantuana que ainda hoje no mundo grande fama gozas e enquanto ele - o mundo - existir mais famoso serás; um amigo meu que a sorte o desampara, teve seu caminho interrompido ao sopé da montanha; encontra-se lá cheio de medo e pretende voltar; pelo que fiquei sabendo lá no céu temo que já esteja tão perdido que tarde demais seja vir à socorrê-lo. Vai! Talvez com teu belo discurso conseguirás salvá-lo ainda do perigo. – ‘Sou Beatriz; enviaram-me ao que digo, do lugar aonde venho e voltar desejo; conduziu-me a isto o amor; portanto permita-me com ele ficares, que voltando eu ao meu Senhor, a todo o momento repetirei os louvores que a ti é merecido’. - Então, quando ela se calou eu disse: "Senhora da Virtude que sobre a lua vives, (Beatriz simboliza a teologia) e tanto auxílio tem prestado ao ser humano, prontifico-me a obedecer ao que ordenas e que obedecido já deveria ter sido sem demora! Dize-me porém, por que Senhora, deixastes o céu ao qual tanto anseias voltar e tenhas resolvido vir a este lugar? Respondeu-me: - “Se queres tanto ser esclarecido, te direi em frase breve: medo não tive de descer à essas trevas; somente as coisas recear se deve, quando a outrem prejuízo for; as demais, o temor coisa leve é. O Deus Soberano prestou-me grande favor ao consentir me auxiliares nesse terrível momento. No Céu há nobre Dama (Maria, mãe de Jesus) que se compadece do sofrimento humano e tanto ela implora que lá existe austero decreto repassado de ternura, sobre isto. Dirigindo-se ela a Luzia (Luzia simboliza a graça santificante) disse: "O teu fiel amigo corre tanto perigo, que a tua proteção o recomendo agora" Luzia que estava ao lado de Raquel (Raquel, filha de Labão e mulher de Jacó; simboliza a vida contemplativa) e que sempre inimiga do mal é, moveu-se até onde eu estava e disse-me apressada: "A Deus verdadeiro louvor, Beatriz, por que não socorres a quem tanto te amou e que somente por tua causa deixou desviar-se da boa estrada? Não vês que está sendo levado pela correnteza e ao mar não se atira por mortal temor? Não tem ele fugido da total destruição?" Ninguém vem procurando o que deseja como eu, tais vozes escutando; por isso deixei o meu trono, por confiar na eloqüência dos teus discursos e para glória tua e de quem te ouvindo esteja”. - Assim falando volvia ela à mim, o olhar cheio de lágrimas, mandando-me apressar e vir rapidamente. Por isso a ti vim como me foi por ela ordenado. Da fera te livrei quando tão perto da colina estava e teus passos impedia. Que fazer pois? Por que? Por que demonstra tanta fraqueza teu peito espavorido? Por que não sedes ao valor de tua alma quando és pela três damas protegido de tal modo que na coorte do Céu, por ti, a mim fazem que eu te proteja?"
Igual a flores que se abatem fechadas sob o frio da noite e, ao calor do sol se erguem sobre suas hastes tais como antes eram, assim meu valor se renova e fortalece; tanta coragem senti que, exclamei como jamais medo sentisse: "Ó Dama que compassiva me socorreste! E tu, que sua voz ouvindo, obedeceste às ordens com alegria e dedicação! Pelo que dissestes, me acendeste desejo tal de vir, que sou tomado ao propósito que antes me trouxeste". - continuei - "Segue, pois nosso querer está combinado; serás meu guia, meu senhor, meu mestre”
Moveu-se ele, e eu ao seu lado pelo caminho de vegetação alta e selvagem entrei.
Assim acontecia comigo naquela tenebrosa encosta da montanha, porque pensando melhor rejeitava o propósito formado às pressas de abandonar essa missão; atitude essa que agora me desgosta. Então naquele momento, escutei do meu Guia a sua voz vinda das sombras;
"O que disseste compreendo; contaminado estás por desprezível sentimento que muita vez faz do homem alma covarde, desviando-o das ações honrosas qual sombra que ao corcel trava-lhe o trote". E continuou: "De repente senti que me encontrava sobre o Limbo; porém auxiliado fui por tão bela Dama, tão graciosa, que as suas ordens rapidamente obedeci; seus olhos brilhavam mais que estrela radiosa; com voz de anjo falou-me piedosa: "Cortês alma mantuana que ainda hoje no mundo grande fama gozas e enquanto ele - o mundo - existir mais famoso serás; um amigo meu que a sorte o desampara, teve seu caminho interrompido ao sopé da montanha; encontra-se lá cheio de medo e pretende voltar; pelo que fiquei sabendo lá no céu temo que já esteja tão perdido que tarde demais seja vir à socorrê-lo. Vai! Talvez com teu belo discurso conseguirás salvá-lo ainda do perigo. – ‘Sou Beatriz; enviaram-me ao que digo, do lugar aonde venho e voltar desejo; conduziu-me a isto o amor; portanto permita-me com ele ficares, que voltando eu ao meu Senhor, a todo o momento repetirei os louvores que a ti é merecido’. - Então, quando ela se calou eu disse: "Senhora da Virtude que sobre a lua vives, (Beatriz simboliza a teologia) e tanto auxílio tem prestado ao ser humano, prontifico-me a obedecer ao que ordenas e que obedecido já deveria ter sido sem demora! Dize-me porém, por que Senhora, deixastes o céu ao qual tanto anseias voltar e tenhas resolvido vir a este lugar? Respondeu-me: - “Se queres tanto ser esclarecido, te direi em frase breve: medo não tive de descer à essas trevas; somente as coisas recear se deve, quando a outrem prejuízo for; as demais, o temor coisa leve é. O Deus Soberano prestou-me grande favor ao consentir me auxiliares nesse terrível momento. No Céu há nobre Dama (Maria, mãe de Jesus) que se compadece do sofrimento humano e tanto ela implora que lá existe austero decreto repassado de ternura, sobre isto. Dirigindo-se ela a Luzia (Luzia simboliza a graça santificante) disse: "O teu fiel amigo corre tanto perigo, que a tua proteção o recomendo agora" Luzia que estava ao lado de Raquel (Raquel, filha de Labão e mulher de Jacó; simboliza a vida contemplativa) e que sempre inimiga do mal é, moveu-se até onde eu estava e disse-me apressada: "A Deus verdadeiro louvor, Beatriz, por que não socorres a quem tanto te amou e que somente por tua causa deixou desviar-se da boa estrada? Não vês que está sendo levado pela correnteza e ao mar não se atira por mortal temor? Não tem ele fugido da total destruição?" Ninguém vem procurando o que deseja como eu, tais vozes escutando; por isso deixei o meu trono, por confiar na eloqüência dos teus discursos e para glória tua e de quem te ouvindo esteja”. - Assim falando volvia ela à mim, o olhar cheio de lágrimas, mandando-me apressar e vir rapidamente. Por isso a ti vim como me foi por ela ordenado. Da fera te livrei quando tão perto da colina estava e teus passos impedia. Que fazer pois? Por que? Por que demonstra tanta fraqueza teu peito espavorido? Por que não sedes ao valor de tua alma quando és pela três damas protegido de tal modo que na coorte do Céu, por ti, a mim fazem que eu te proteja?"
Igual a flores que se abatem fechadas sob o frio da noite e, ao calor do sol se erguem sobre suas hastes tais como antes eram, assim meu valor se renova e fortalece; tanta coragem senti que, exclamei como jamais medo sentisse: "Ó Dama que compassiva me socorreste! E tu, que sua voz ouvindo, obedeceste às ordens com alegria e dedicação! Pelo que dissestes, me acendeste desejo tal de vir, que sou tomado ao propósito que antes me trouxeste". - continuei - "Segue, pois nosso querer está combinado; serás meu guia, meu senhor, meu mestre”
Moveu-se ele, e eu ao seu lado pelo caminho de vegetação alta e selvagem entrei.