O por quê da "Divina Comédia"

Desde criança sinto verdadeira atração pelas estrelas. Na fazenda de meu pai, - município de Itabuna – Bahia, não havia iluminação elétrica, por isso, enquanto meus irmãos sob a vigilância de meus pais brincavam como qualquer criança, eu, deitada sobre o gramado ficava a contar e descobrir novas estrelas. Achava lindo, o céu! O luar então me deslumbrava e ainda hoje me encanta. Meu pai, meu grande amigo, homem simples mas inteligente e culto, vendo meu interesse em conhecer os mistérios do Universo, me dava como presente tudo o que encontrava de interessante sobre o assunto, como mapas indicando a posição das estrelas e os nomes das constelações; e outros, dentre eles a “Divina Comédia”. Porém não conseguia ler seus versos; dizia que eram escritos “de trás para a frente”, mas sabia que Dante Alighieri tinha ido às estrelas. Então guardei o livro com muito carinho, pensando: quem sabe, um dia... Passaram-se 55 anos até que em Janeiro do ano 2.000, início do 3º milênio, me veio a inspiração: vou ler, e o que for compreendendo, vou escrevendo; tudo manuscrito. Meditei, conversei com Dante, pesquisei História Universal, Teologia, Religião, Mitologia, Astronomia... durante oito anos.
Agora, carinhosamente, quero compartilhar com vocês o resultado desse trabalho, que me fez crescer como mulher e espiritualmente. Espero que gostem.

sábado, 20 de outubro de 2012

O PAR. CANTO II

Sobem à Lua. Exortação aos leitores. Dante pergunta a Beatriz se as manchas da Lua dependem da maior ou menor densidade do astro. Beatriz corrige o erro. Todos os astros são iluminados pela virtude que o primeiro móvel se difunde aos céus sobpostos. Na Lua a virtude é menor que nos outros céus.
Texto do Tradutor.
Ó vós que em frágil barca navegando, ansiosos por ouvir estais a seguir minha embarcação que entre Cantos velejando vai, voltai aos portos de onde haveis partido; o alto mar evitai porque se eu me perder podereis perder vosso rumo também. Ainda ninguém percorreu mares iguais ao que eu vou navegando. Inspira-me Minerva, Apolo me conduz e o rumo a seguir, indicam-me as Musas. (Frágil barca: pouquíssimo conhecimento; Dante fala aos leitores que não possuem preparo suficiente para diferenciar a realidade da fantasia; conhecimento necessário para compreender seu Paraíso). E vós, os raros entre os outros, que a tempo concentrastes a mente a esse Pão dos Anjos (ciência divina; na teologia = Deus) que ao espírito alimenta, mas, não sacia a quem ainda sobre a terra está, sem temor vossa nau levai ao extenso oceano seguindo nas águas a minha esteira, enquanto nela o seu sulco se apresenta. Ficareis mais atônitos do que Jasão ficara em Colcos quando, após ter semeado a terra surgiu gente guerreira. (Os argonautas, que se espantaram quando Jasão arando o campo com dois touros que expeliam fogo pelas narinas e semeando na terra os dentes do monstro que havia matado, surgiram do solo, guerreiros. = Ovídio, Met VIII).
O incessante desejo de buscar as alturas (buscar Deus) nos impulsionava. Beatriz olhava para o alto, eu a olhava; subia mais rápido do que a seta ao se desprender do arco indo em direção ao alvo. De repente fui atraído para algo maravilhoso, quase um diamante atingido pela luz do sol. Beatriz, conhecendo meus pensamentos voltou-se em minha direção e tão alegre quanto bela disse: “Agradecido, eleva teu pensamento a Deus, pois acabamos de chegar à primeira estrela” (à Lua). Senti-me como se estivéssemos cobertos por espessa nuvem brilhante sólida e polida qual diamante; no centro daquela pérola eterna penetramos como um raio de luz penetra na água que o recebe no seu interior sem abrir fenda. 
Se eu era corpo, aqui na terra não se poderia compreender como é possível que um espaço seja ocupado por outro espaço ao mesmo tempo, sem que um corpo penetre outro. (Tendo Dante um corpo sólido, portanto, um espaço ocupado, e sendo a lua igualmente sólida, portanto, um espaço também ocupado, como se poderia compreender ter Dante penetrou no corpo da lua, com a matéria - o corpo físico - unificada ao espírito). Esse prodigioso mistério despertaria em nós o desejo de ver a Suprema Essência que uniu a Natureza Humana com a Divina (Jesus Cristo). Ali a realidade se apresenta com a aparência daquilo que se acredita por força da fé, sem exigência de provas, considerando-a como verdade principal a que o homem se deve prender.
Então, comovido eu lhe disse: “Com o espírito devotado curvo-me humildemente perante Àquele que me tem distante do mundo dos mortais. Mas, explique-me o que são as manchas escuras que neste céu aparecem, fazendo com que na Terra criaram-se fábulas referentes a Caim”. (segundo uma crendice popular as manchas da Lua representavam Caim carregando um feixe de espinhos). Ela então sorrindo respondeu-me:
“A inteligência humana sempre erra quando não usa a chave da sabedoria para lhe abrir as portas do conhecimento. Em ti, correto seria não ficar admirado; pois, já tens noção de como pouco se aprende quando a inteligência busca apenas aquilo que os sentidos alcançam. Mas, dize-me: Que idéia, fazes sobre essas manchas?”.
Então lhe respondi: “Acredito que isso aconteça, por alguns corpos serem grossos (densos, isto é: onde a massa é compacta), outros finos (raros, isto é: onde faltam massas)”.
Ela então replicou: “Se ficares atento ao que te apresentarei bem claramente verás, que esse teu entendimento não corresponde à verdade. Na oitava esfera (oitavo céu) brilham muitos astros que se diferenciam uns dos outros pelo aspecto e qualidade da luz, por eles emitidos. Se a densidade, ou a raridade fosse a origem das sombras ou das luzes, todos os astros celestes possuiriam as mesmas propriedades e teriam aparências mais ou menos iguais. Para que existam variedades de aspectos (efeito), é inevitável que sejam procedentes de princípios formais diversos (causa); mas, de acordo com seu modo de pensar, todos os princípios da causalidade, menos esse que você acredita, deveriam ser destruídos; e também, se as manchas que aqui aparecem fossem causadas por falta de matéria lunar, em algum ponto deste planeta (da Lua) poderia se ver partes vazias, ocas, como se pode observar no corpo de um animal entre o músculo e a gordura; se assim fosse, por ocasião dos eclipses, sob os efeitos da luz, esses espaços vazios seriam bem visíveis. Mas não é o que acontece. (Se a Lua tivesse partes transparentes não haveria a possibilidade de se verificar o eclipse do Sol. Se as partes rarefeitas fossem transparentes, deveria haver o oposto delas, como num espelho, partes densas que impedem a transparência. Nesse caso último, porém os raios externos como espelho, deveriam refletir-se) Quanto a ideia de que o denso e o raro estão em camadas alternadas, poderei demonstrar que também está errada. A parte menos densa não sendo transparente, neste corpo deve haver um limite por onde a luz não possa ser atravessada e, sobre si a luz, bem como a cor, se tornará intensa. É o que acontece com o vidro quando o chumbo é colocado em um dos lados. Dirás que ai a densidade do chumbo, impediu a passagem da luz, podendo ser à maior distância refletida. Por ser o Sol fonte de toda a existência, dele poderás fazer uso como experiências: se de três espelhos, colocares dois a um intervalo de modo que o terceiro fique mais distante dos dois primeiros, estando uma luz colocada de forma tal que em todos eles esteja refletida, olhando-as, verás que, apesar da imagem refletida no espelho mais distante pereça menor, com igual intensidade a luz resplandece. Como pelo calor do sol o orvalho se derrete e se esvai deixando surgir o que ela ocultava, assim teu engano desapareça. Lá no Céu da Paz Divina (no Empíreo) gira a enorme força cuja virtude tem a capacidade de comandar tudo o que nele está contido, pois ela é a origem da vida. (O primeiro móvel que influencia os outros céus e situa-se acima de todos eles). No céu seguinte repleto de astros, aquela força ou ser se divide por várias naturezas distintas, mas que nela se encerra. Os outros Céus, um sempre abaixo do outro – por várias influências – dispõe de diferenças que lhes fornece tudo o que é necessário aos seus fins e conseqüências. Estais percebendo, pois que cada parte desse conjunto, segue divisões de espaço que não varia. O que abaixo acontece vem sempre do de cima. Já compreendeste como é seguro o caminho por onde deves seguir para chegar à desejada verdade; depois poderás atravessar o vau sem necessidade de guia. A atividade dos Céus desta forma revelada deve ser atribuída aos santos motores (aos anjos que agem em cada nível dos Céus) como ao artífice é atribuída a força do martelo. E o Céu que tantas estrelas no seu espaço movimenta e o faz belo, a imagem do Supremo Ser recebe, e nele a imprime como selo. E, como a alma que a humana argila atuando por todo o corpo, capacidades diversas lhe transmite, assim a Inteligência nos milhões de astros se multiplicando sobre sua Unidade a Sua benevolência, vês girando”.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

MINHA INTRODUÇÃO AO “PARAÍSO”

Queridos amigos seguidores e leitores:
Foi postado neste blog o “Canto XXXIII” do Purgatório que é o último da 2ª Parte da “Divina Comédia” – cuja interpretação minhas palavras não conseguiram transmitir o que foi criado pela minha imaginação.
A partir de agora darei continuidade, com a 3ª Parte: os Cantos referentes ao “Paraíso”.
Tal como Dante mas não o plagiando, suplico ao Ser Supremo o dom da Compreensão  para essa difícil pretensão. Todas as vezes que releio o que foi escrito sinto que as palavras ali colocadas não alcançaram o seu verdadeiro sentido por isso peço a todos vocês que soltem o pensamento deixando a criatividade completar o que não me foi possível fazer.
Desejo a todos boa leitura.
Ritta de Cássia Dantas

O PARAÍSO CANTO I
Invocando Apolo, o Poeta conta como do Paraíso Terrestre ele e Beatriz se alçaram ao Céu atravessando a esfera de fogo. Beatriz explica-lhe como possa vencer o próprio peso e subir. É atraído pelo invencível amor. Seguindo as teorias de Ptolomeu, Dante põe a terra imóvel no centro do Universo e, em redor dela, em órbitas concêntricas, os céus da Lua, de Mercúrio, de Vênus, do Sol, de Marte, de Júpiter de Saturno, a oitava esfera, que é a das estrelas fixas, nona, ou primeiro móvel, e finalmente o Empíreo, que é imóvel. Transportado pela força que faz rodar os céus e pela luz sempre crescente de Beatriz, Dante eleva-se de um céu para outro, e em cada um deles aparecem-lhe os espíritos bem-aventurados que, quando vivos, possuíram a virtude própria do respectivo planeta.   
Texto do Tradutor


A gloria d’Aquele por Quem tudo foi criado penetra e resplandece em todo o universo sendo que em alguma parte com maior brilho e com menos brilho em outra.  No Céu onde Sua luz é mais intensa coisas maravilhosas vi, que explicar não sabe ou não pode  quem na terra está, porque ao querer relembrar as coisas divinas, a mente humana não consegue encontrar palavras que expresse tamanha perfeição.
Porém, os tesouros do santo reino, que meu entendimento pôde arrecadar será o tema do meu novo Canto. Faze bom Apolo (Deus da poesia) que neste meu empreendimento final eu esteja repleto de inspiração e  meus versos recebam o teu louvor. Até aqui, bastou-me um dos picos do Parnaso; agora, necessitado estou dos dois para chegar vencedor nesta proposta. (O monte Parnaso tinha dois cumes; num moravam as Musas com Baco; no outro, chamado de Elião ou Cirra, morava Apolo). Penetra em meu peito! Encoraja este que te suplica; concede-lhe a mesma força que usaste quando arrancaste de Mársias, a pele! (O satírico Mársias desafiou Apolo a quem tocasse melhor e foi esfolado pelo Deus). Quando, por divinal puder, na celestial morada dei entrada, a visão do esplendor celestial ficou gravada em minha alma; e para descrevê-lo exatamente como o vi se faz urgente, pois assim o assunto exige. Com teu auxílio, poderei receber de tuas mãos o merecido louro da vitória. São poucos os podem receber tal recompensa; apenas os que triunfam como guerreiros ou poetas. - Isso acontece por culpa da pequena vontade em querer lutar. A tríplice divindade exulta de alegria quando um ser humano deseja ardentemente ter sobre a fronte os gloriosos ramos de louro. Os grandes incêndios se iniciam por pequena faísca; acredito, portanto, que esta minha atitude servirá de estímulo aos poetas a buscarem em Cirra maior inspiração.
De vários pontos da terra a luz o Sol se apresenta a toda a criação, mas, com mais intensidade naquela parte onde quatro círculos se encontram em linha, formando três cruzes, (1°círculo: do horizonte = linha circular da terra, que limita nossa observação visual na qual o céu parece encontrar-se com a terra; 2º círculo: do equinócio = linha circular da terra perpendicular aos pólos, quando a noite e o dia, têm igual duração; 3° círculo: da eclíptica: = linha circular da órbita terrestre; 4°círculo: o do equador = linha circular máxima da esfera terrestre que a divide em dois hemisférios). Procedente de fortalecedora estrela e percorrendo livremente o caminho - estando a atmosfera limpa – pode essa luz dar consistência e forma à mundana cera (matéria terrestre). Dali (no hemisfério do purgatório) surgia o dia; daqui (no hemisfério terrestre) iniciava a noite; assim, enquanto um dos hemisférios branquejava e o outro as trevas o enegrecia, vi ao meu lado Beatriz  a olhar fixamente o Sol - qual raio que de si luz desprende refletindo outro raio que para as alturas retorna - como um peregrino ansioso por regressar. Águia alguma jamais firmara  tanto  o olhar na ofuscante luz desse astro! Essa atitude de Beatriz e o estímulo do seu olhar encorajaram-me a imitá-la; e o fiz mais do que é permitido a qualquer ser humano. Muito do que na Terra é proibido, no Paraíso é ofertado à raça humana, pois fora por merecimento, prometido. Fitar o Sol por muito tempo, não pude; mas o suficiente para vê-lo brilhar no espaço a lançar faíscas qual ferro em brasa; nunca imaginei que algum dia pudesse ver o Sol a resplandecer no céu, com outro, como se Deus tivesse criado um segundo sol em um só espaço. Beatriz mantinha o olhar absorvido na resplandecente luz. Mas, os meus que do Sol os desviei, extasiados imobilizaram-se no seu semblante. Contemplando-a, meu ser se transformou, qual ocorreu com Glauco quando, ao comer poderosa erva marinha se tornou igual aos Deuses do mar. Não podendo explicar claramente o que seja essa “transformação” a palavra seja suficiente a quem, recebendo tamanha graça, o experimente. Ó Deus! Por Tua Graça fui elevado e bem sabias que meu corpo ainda estava ligado ao meu espírito; mas, enquanto conduzido aos Céus por entre os astros, meu pensamento se deteve na harmonia com que os governa. Vi que grande parte do céu estava banhada pela luz do Sol. Na Terra nunca, os rios nem as chuvas formaram lago igual. Aquelas luzes, aqueles comoventes sons que jamais havia escutado, despertaram em mim intenso desejo de saber de onde viam.

E Beatriz que via no meu íntimo sentimentos que só eu conhecia, para me acalmar o ânimo agitado, sem que eu tivesse pronunciado uma só palavra disse: “Teu espírito se perde em falsa imaginação; se assim não fosse, estarias vendo o que não vês. Te enganas ao acreditar que estás sobre a Terra, O raio não desce para a terra com tanta velocidade como tu que para o céu estás subindo”.
Se com suas explicações essa dúvida desapareceu, a voz seguida pelo riso outra dúvida maior confundiu-me o entendimento. Então eu lhe disse: “Minha confusão diminuiu; mas agora o que mais me surpreende, é sentir como vou atravessando esses corpos leves” (corpos leves: Dante se refere ao ar e a luz). Ouvindo-me, Beatriz suspira ternamente e me olha com piedoso semblante de mãe que orienta ao filho: “Toda a criação, conforme a condição que lhe impõe a natureza, mantém entre si constante ordem; essa é a semelhança existente entre o universo e Deus. Um espírito elevado percebe nele, claramente, a marca da perfeição divina, finalidade suprema que essa lei busca. (A lei da Ordem Universal). Percorrendo diferentes caminhos pelo vasto mar da existência, cada qual segue os instintos que Deus lhe concedeu. Por eles, o calor consegue alcançar a Lua; por eles, os corações dos mortais pulsam e a terra continua em movimento. O poder dos instintos não atua somente sobre os seres irracionais qual impulso do arco sobre a flecha, mas também sobre os que receberam o dom da inteligência e da gratidão. Tudo em perfeita ordem o Onipotente Criador, com sabedoria, mantém o céu sempre aquietado, onde gira o que vai com maior velocidade (mantém o céu imóvel, isto é: parado, embaixo do mais veloz dos céus). Para lá, como o arco a um ponto determinado, a poderosa força desse arco impulsiona a flecha do amor divino em direção aos que, esse amor busca. Mas, como a maior parte das vezes, rebelde, a forma não responde a perfeita intenção da arte porque a matéria teima em não executá-la, assim o ser humano que foi criado para segui o bem, tendendo a se afastar desse caminho, poderá desviar-se para sempre. E se falsos prazeres, desvia aquele impulso do divino, qual raio se desprendendo de nuvem rapidamente das alturas cai. Portanto, não se surpreenda por estar sendo elevado; como é natural que as águas do alto monte desçam para o vale, para o mundo estrelar estás subindo; para ti espantoso seria se não subisses, pois estás completamente livre de impedimento. A chama não fica imóvel sobre a terra”
               Após assim dizer, voltou novamente o olhar para o firmamento.