O por quê da "Divina Comédia"

Desde criança sinto verdadeira atração pelas estrelas. Na fazenda de meu pai, - município de Itabuna – Bahia, não havia iluminação elétrica, por isso, enquanto meus irmãos sob a vigilância de meus pais brincavam como qualquer criança, eu, deitada sobre o gramado ficava a contar e descobrir novas estrelas. Achava lindo, o céu! O luar então me deslumbrava e ainda hoje me encanta. Meu pai, meu grande amigo, homem simples mas inteligente e culto, vendo meu interesse em conhecer os mistérios do Universo, me dava como presente tudo o que encontrava de interessante sobre o assunto, como mapas indicando a posição das estrelas e os nomes das constelações; e outros, dentre eles a “Divina Comédia”. Porém não conseguia ler seus versos; dizia que eram escritos “de trás para a frente”, mas sabia que Dante Alighieri tinha ido às estrelas. Então guardei o livro com muito carinho, pensando: quem sabe, um dia... Passaram-se 55 anos até que em Janeiro do ano 2.000, início do 3º milênio, me veio a inspiração: vou ler, e o que for compreendendo, vou escrevendo; tudo manuscrito. Meditei, conversei com Dante, pesquisei História Universal, Teologia, Religião, Mitologia, Astronomia... durante oito anos.
Agora, carinhosamente, quero compartilhar com vocês o resultado desse trabalho, que me fez crescer como mulher e espiritualmente. Espero que gostem.

domingo, 28 de abril de 2013

O PARAÍSO-CANTO XII


Terminando Stº Tomás de Aquino de falar, ajunta-se a primeira coroa de doze espíritos resplandecentes, mas uma coroa de igual número de espíritos. São Boaventura, franciscano, tece louvores a S. Domingos. Depois dá notícias acerca de seus companheiros. Texto do Tradutor.

Assim que a nobre luz terminou de proferir sua última palavra, a coroa luminosa girou como anteriormente. Não havia ainda completado uma volta inteira, quando outras luzes apareceram formando um círculo maior ao redor do primeiro e ambos entoavam acordes e se movimentavam em perfeita harmonia. Esse canto superava o das Musas e das sereias. Quanto ao esplendor das luzes que dos dois círculos irradiava, nas cores se igualava as do arco-íris, escrava de Juno a surgir entre nuvens; eram tão semelhantes entre si que pareciam ser reflexo uma da outra e tão unidas ficavam, como se fossem uma só, tal como ocorreu com a que por amor foi consumida assim como as névoas são pelo sol da manhã, (a ninfa Eco que pelo amor a Narciso desapareceu dentro da própria voz).
É desse arco de luzes (do arco-íris) que vem a crença da promessa firmada entre Deus e Noé de que a terra não mais seria castigada com outro dilúvio.  
As guirlandas de sereno róseo iam girando em torno de nós nessa festiva dança entre harmonioso canto e flamejantes luzes quando, de repente, interromperam a festa como se obedecendo a um único comando, assim como acontece com nossos olhos que se abrem e fecham vigilantes; e do interior de uma das luzes elevou-se uma voz que fez com que para ela rápido me voltasse como a agulha da bússola se volta em direção à estrela polar. (A voz é a alma de São Boaventura).
São Boaventura - Google
Disse: “A imensa graça que me envolve em luz me inspira a te falar de outro Mestre que foi motivo de grande louvor; onde de um se recorda o outro tanto brilha. Ambos militando sob a mesma causa, na mesma glória resplandecem agora. O exército de Cristo, arduamente organizado, pequeno e cauteloso seguia Seu estandarte; e quando na milícia o desânimo chegava por falta de suprimentos indispensáveis a sobrevivência, somente por graça do Eterno Imperador, (Deus) provimento recebeu; e, para salvação da Esposa (a pobreza) enviou um duplo vencedor que, ao erguer a voz recobra a coragem daquele desanimado exército. Naquela terra (na Espanha) onde na primavera o suave vento convida a se abrirem novas flores que aos poucos se reveste toda a Europa, na região onde se embate furioso o mar e que o sol terminando o seu curso às vezes esconde seus ardores, em ditoso solo está Calaruega, que protegera o poderoso escudo no qual um leão subjuga e o outro é subjugado. (O escudo dos reis de Castela; representava dois leões: um abaixo e outro, acima de um castelo).  
Domingos de Gusmão -Google        

Ali nasceu o heroico lutador, esse incansável amante da fé cristã, que ao mesmo tempo em que complacente era com seus soldados, guerra declarara a maldade. A virtude foi tão intensa em seu espírito, que, ainda se encontrando no ventre materno, sua mãe lhe previu o futuro. (Durante a gravidez  a mãe de São Domingos viu em sonho um forte animal cujo pelo era branco e negro – as cores da Ordem Dominicana – carregando na boca uma tocha que incendiava o mundo).

“Quando veio se confirmar a união entre ele e a Fé na fonte batismal, sua madrinha que respondia por ele viu em milagrosa visão a farta colheita que ele e seus companheiros teriam na messe Divina. Como portentosa demonstração a que a piedosa alma estava destinada, um Anjo do Senhor desceu a fim de chamá-lo: Domênico e eu dele falo como do operário que Cristo elegera para ajudá-Lo no labor da vinha. Se mostrou ao mundo como servo e enviado de Cristo. A primeira paixão nele manifestada foi pela primeira lei que Cristo nos deu (Amai-vos uns aos outros).
Muitas vezes sua ama o encontrou prostrado no chão em profundo silêncio, porém bem desperto, como a dizer: - “para isto fui destinado”. Oh! Como, certamente seu pai foi feliz! Sua mãe foi realmente Joana, (Joana em hebraico tem o significado de “portadora de Graças”) se for certo o significado que lhe dão! Em pouco tempo tornou-se sapiente doutor; não, estudando nos livros de Ostiense e Tadeu (Ostiense: o cardeal Henique de Susa que comentou os “Deleteres” – Tadeu Andriotti,: florentino, médico ou segundo outros comentadores, Tadeu dei Pepoli, jurista bolonhês), mas buscando com afã os ensinamentos de Jesus, tornou-se assim guarda vigilante da santa vinha, que, havendo pouca dedicação ao dela se cuidar, rápido se perde. Quando esteve em Roma que era era compassiva para com  os justos e hoje vagueia sem rumo por culpa do que a governa, (por culpa do Papa Bonifácio VIII) não pedia ajuda financeira, nem juros, nem dízimos, pois esses pertencem aos pobres; porém suplicava consentimento para combater erros contra a doutrina de Cristo e proteger a semente da qual brotaram as vinte e quatro flores que diante de ti estão, contra os prazeres matérias da vida. (defenda a fé de que se alimentaram os espíritos dos vinte e quatro teólogos que estão na presença de Dante).
“Com força de vontade, santa pregação e zelo apostólico, se lança a difícil evangelização que o mundo tanto se admira. Dessa caudalosa nascente brotaram rios que até aos dias presentes continuam regando os jardins do mundo católico e aos seus arbustos dão vida e força. (Jardim, etc., em sentido figurado). Assim, ele foi uma das rodas que conduzia o carro onde estavam os defensores da Santa Igreja.
 “Do grande mérito do outro, antes de mim já te falou Tomás; e suas palavras, foram brilhantes. Porém o enorme sulco deixado por aquela roda ficou em desamparo tal, que onde havia flores o lodo tristemente domina. Hoje vê-se a sua família de tal modo desviada do caminho aberto por ele, que de todo esqueceu as pegadas. Logo se terá a prova da má cultura na seara; em vez de ir ao celeiro, sendo erva daninha será levada pelo vento. Quem nos escritos atentamente lesse, encontraria em algum lugar, a seguinte frase: - “sou, como sempre fui, isento de impureza”. Em Casele e Água-Spart (alusão a divisão dos franciscanos em dois partidos: um chefiado por Ubertino de Casela e outro por Mateus d´Acques-sparta) também não se viu coisa igual; lá, as normas do mosteiro são interpretadas de tal forma, que um, de covarde foge e outro, exagerado, não sai do lugar.
“Sou Boaventura natural de Bagnoregio; ao exercer elevados cargos sempre rejeitei o tratamento especial deixando os interesses materiais em segundo lugar. Naquela luz ao lado de Agostinho está Iluminato, (Agostinho e Iluminato: dois companheiros de S.Francisco) que foi da Ordem dos Irmãos Descalços; cada um, nas vestes da pobreza, por Deus se inflama. Vê também o valoroso Hugo de S. Vitor, bem como Pedro Mangidore e Pedro Ispano, (os três foram egrégios teólogos) todos famosos por seus doze livros editados. Vê também, Profeta Natan (o profeta que repreendeu Davi) e o metropolitano João Crisóstomo (patriarca da Igreja) Anselmo, (Stº Anselmo, bispo de Canterbury) e também o famoso Donato (gramático latino) soberano na arte do falar. Vê também ali, resplandecendo, Rábano e ao seu lado, o abade calabrês Giovachino, dotado de espírito profético. (Rábano e o Abade Giovachino, escritores sacros). As sábias palavras de Tomás de Aquino referindo-se ao excelso paladino levaram a mim e a todos que aqui estão, a cumprimentá-lo amorosamente”.


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