Terminando
Stº Tomás de Aquino de falar, ajunta-se a primeira coroa de doze espíritos
resplandecentes, mas uma coroa de igual número de espíritos. São Boaventura,
franciscano, tece louvores a S. Domingos. Depois dá notícias acerca de seus
companheiros. Texto do Tradutor.
Assim que a nobre luz terminou de
proferir sua última palavra, a coroa luminosa girou como anteriormente. Não
havia ainda completado uma volta inteira, quando outras luzes apareceram formando um círculo maior ao
redor do primeiro e ambos entoavam acordes e se movimentavam em perfeita
harmonia. Esse canto superava o das Musas e das sereias. Quanto ao esplendor
das luzes que dos dois círculos irradiava, nas cores se igualava as do
arco-íris, escrava de Juno a surgir entre nuvens; eram tão semelhantes entre si
que pareciam ser reflexo uma da outra e tão unidas ficavam, como se fossem uma
só, tal como ocorreu com a que por amor foi consumida assim como as névoas são
pelo sol da manhã, (a ninfa Eco que pelo amor a Narciso desapareceu dentro da
própria voz).
É desse arco de luzes (do arco-íris) que vem a
crença da promessa firmada entre Deus e Noé de que a terra não mais seria
castigada com outro dilúvio.
As guirlandas de sereno róseo iam girando em torno de
nós nessa festiva dança entre harmonioso canto e flamejantes luzes
quando, de repente, interromperam a festa como se obedecendo a um único
comando, assim como acontece com nossos olhos que se abrem e fecham vigilantes;
e do interior de uma das luzes elevou-se uma voz que fez com que para ela
rápido me voltasse como a agulha da bússola se volta em direção à estrela polar.
(A voz é a alma de São Boaventura).
São Boaventura - Google
Disse: “A imensa graça que me envolve em luz me
inspira a te falar de outro Mestre que foi motivo de grande louvor; onde de um
se recorda o outro tanto brilha. Ambos militando sob a mesma causa, na mesma glória
resplandecem agora. O exército de Cristo, arduamente organizado, pequeno e
cauteloso seguia Seu estandarte; e quando na milícia o desânimo chegava por falta
de suprimentos indispensáveis a sobrevivência, somente por graça do Eterno
Imperador, (Deus) provimento recebeu; e, para salvação da Esposa (a pobreza)
enviou um duplo vencedor que, ao erguer a voz recobra a coragem daquele
desanimado exército. Naquela terra (na Espanha) onde na primavera o suave vento
convida a se abrirem novas flores que aos poucos se reveste toda a Europa, na
região onde se embate furioso o mar e que o sol terminando o seu curso às vezes
esconde seus ardores, em ditoso solo está Calaruega, que protegera o poderoso
escudo no qual um leão subjuga e o outro é subjugado. (O escudo dos reis de
Castela; representava dois leões: um abaixo e outro, acima de um castelo).
Domingos de Gusmão -Google
Ali
nasceu o heroico lutador, esse incansável amante da fé cristã, que ao mesmo
tempo em que complacente era com seus soldados, guerra declarara a maldade. A
virtude foi tão intensa em seu espírito, que, ainda se encontrando no ventre
materno, sua mãe lhe previu o futuro. (Durante a gravidez a mãe de São Domingos
viu em sonho um forte animal cujo pelo era branco e negro – as cores da Ordem Dominicana
– carregando na boca uma tocha que incendiava o mundo).
“Quando veio se confirmar a união entre ele e a
Fé na fonte batismal, sua madrinha que respondia por ele viu em milagrosa visão
a farta colheita que ele e seus companheiros teriam na messe Divina. Como
portentosa demonstração a que a piedosa alma estava destinada, um Anjo do
Senhor desceu a fim de chamá-lo: Domênico e eu dele falo como do operário que
Cristo elegera para ajudá-Lo no labor da vinha. Se mostrou ao mundo como servo
e enviado de Cristo. A primeira paixão nele manifestada foi pela primeira lei
que Cristo nos deu (Amai-vos uns aos outros).
Muitas vezes sua ama o encontrou prostrado no
chão em profundo silêncio, porém bem desperto, como a dizer: - “para isto fui
destinado”. Oh! Como, certamente seu pai foi feliz! Sua mãe foi realmente
Joana, (Joana em hebraico tem o significado de “portadora de Graças”) se for
certo o significado que lhe dão! Em pouco tempo tornou-se sapiente doutor; não,
estudando nos livros de Ostiense e Tadeu (Ostiense: o cardeal Henique de Susa
que comentou os “Deleteres” – Tadeu Andriotti,: florentino, médico ou segundo
outros comentadores, Tadeu dei Pepoli, jurista bolonhês), mas buscando com afã
os ensinamentos de Jesus, tornou-se assim guarda vigilante da santa vinha, que,
havendo pouca dedicação ao dela se cuidar, rápido se perde. Quando esteve em
Roma que era era compassiva para com os justos
e hoje vagueia sem rumo por culpa do que a governa, (por culpa do Papa
Bonifácio VIII) não pedia ajuda financeira, nem juros, nem dízimos, pois esses
pertencem aos pobres; porém suplicava consentimento para combater erros contra
a doutrina de Cristo e proteger a semente da qual brotaram as vinte e quatro flores
que diante de ti estão, contra os prazeres matérias da vida. (defenda a fé de
que se alimentaram os espíritos dos vinte e quatro teólogos que estão na
presença de Dante).
“Com força de vontade, santa pregação e zelo
apostólico, se lança a difícil evangelização que o mundo tanto se admira. Dessa
caudalosa nascente brotaram rios que até aos dias presentes continuam regando
os jardins do mundo católico e aos seus arbustos dão vida e força. (Jardim,
etc., em sentido figurado). Assim, ele foi uma das rodas que conduzia o carro
onde estavam os defensores da Santa Igreja.
“Do
grande mérito do outro, antes de mim já te falou Tomás; e suas palavras, foram brilhantes.
Porém o enorme sulco deixado por aquela roda ficou em desamparo tal, que onde
havia flores o lodo tristemente domina. Hoje vê-se a sua família de tal modo
desviada do caminho aberto por ele, que de todo esqueceu as pegadas. Logo se
terá a prova da má cultura na seara; em vez de ir ao celeiro, sendo erva
daninha será levada pelo vento. Quem nos escritos atentamente lesse,
encontraria em algum lugar, a seguinte frase: - “sou, como sempre fui,
isento de impureza”. Em Casele e Água-Spart (alusão a divisão dos franciscanos
em dois partidos: um chefiado por Ubertino de Casela e outro por Mateus
d´Acques-sparta) também não se viu coisa igual; lá, as normas do mosteiro são
interpretadas de tal forma, que um, de covarde foge e outro, exagerado, não sai
do lugar.
“Sou Boaventura natural de Bagnoregio; ao
exercer elevados cargos sempre rejeitei o tratamento especial deixando os
interesses materiais em segundo lugar. Naquela luz ao lado de Agostinho está Iluminato,
(Agostinho e Iluminato: dois companheiros de S.Francisco) que foi da Ordem dos
Irmãos Descalços; cada um, nas vestes da pobreza, por Deus se inflama. Vê
também o valoroso Hugo de S. Vitor, bem como Pedro Mangidore e Pedro Ispano,
(os três foram egrégios teólogos) todos famosos por seus doze livros editados.
Vê também, Profeta Natan (o profeta que repreendeu Davi) e o metropolitano João
Crisóstomo (patriarca da Igreja) Anselmo, (Stº Anselmo, bispo de Canterbury) e
também o famoso Donato (gramático latino) soberano na arte do falar. Vê também
ali, resplandecendo, Rábano e ao seu lado, o abade calabrês Giovachino, dotado
de espírito profético. (Rábano e o Abade Giovachino, escritores sacros). As sábias
palavras de Tomás de Aquino referindo-se ao excelso paladino levaram a mim e a
todos que aqui estão, a cumprimentá-lo amorosamente”.
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