O por quê da "Divina Comédia"

Desde criança sinto verdadeira atração pelas estrelas. Na fazenda de meu pai, - município de Itabuna – Bahia, não havia iluminação elétrica, por isso, enquanto meus irmãos sob a vigilância de meus pais brincavam como qualquer criança, eu, deitada sobre o gramado ficava a contar e descobrir novas estrelas. Achava lindo, o céu! O luar então me deslumbrava e ainda hoje me encanta. Meu pai, meu grande amigo, homem simples mas inteligente e culto, vendo meu interesse em conhecer os mistérios do Universo, me dava como presente tudo o que encontrava de interessante sobre o assunto, como mapas indicando a posição das estrelas e os nomes das constelações; e outros, dentre eles a “Divina Comédia”. Porém não conseguia ler seus versos; dizia que eram escritos “de trás para a frente”, mas sabia que Dante Alighieri tinha ido às estrelas. Então guardei o livro com muito carinho, pensando: quem sabe, um dia... Passaram-se 55 anos até que em Janeiro do ano 2.000, início do 3º milênio, me veio a inspiração: vou ler, e o que for compreendendo, vou escrevendo; tudo manuscrito. Meditei, conversei com Dante, pesquisei História Universal, Teologia, Religião, Mitologia, Astronomia... durante oito anos.
Agora, carinhosamente, quero compartilhar com vocês o resultado desse trabalho, que me fez crescer como mulher e espiritualmente. Espero que gostem.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O PARAISO - CANTO XIII

O Poeta descreve a dança das duas coroas de espíritos celestes. S. Tomás resolve a seguinte dúvida de Dante: Adão e Jesus Cristo são seres perfeitos por serem obras imediatas de Deus. Merecimento do Rei Salomão. Mas ele não pode ser comparado nem com Adão nem com Cristo. Conclui o Santo advertindo do perigo dos juízos precipitados e, do quanto é sujeito a enganar-se quem julga as coisas pelas aparências. Texto do Tradutor.

Quem desejar compreender o que pude ver deve conservar minha narração bem gravada na memória como se tivesse sido esculpido em rocha. Imagine estar vendo quinze astros distribuídos por diversos pontos da abóbada celeste, irradiando tanta luz que o firmamento ficasse todo iluminado e nesse espaço, girando sempre, noite e dia, duas imensas e fulgurantes rodas de carro cuja claridade ultrapassasse a dos quinze sóis. Agora imagine estar olhando para o centro dessas rodas com se estivesse olhando através da boca de uns cones firmando o olhar em cada uma, bem no ponto onde se localiza o eixo em torno do qual vai girando o primeiro círculo; considere essas duas rodas como sendo astros que formaram constelação idêntica a que surgiu no céu desde quando Ariadne foi levada pela morte. (Ariadne, filha de Minos, depois de morta foi transformada por Baco, numa constelação).  Agora, imagine aqueles dois círculos na celestial altura, um dentro do outro, porém girando em movimentos contrários e misturando seus raios de luzes de diferentes cores. Mesmo imaginando todo esse deslumbrante cenário, o leitor terá apenas pálida idéia de como eram as duas constelações que giravam em torno de nós! São verdades que vão além da nossa compreensão.
Esse mistério ultrapassa tanto a compreensão humana quanto o lento correr das águas do Rio Chiana (rio da Toscana). 
Nesse bailado e cantar, nem Baco nem Apolo estavam sendo louvados (hino que os antigos cantavam nas festas de Apolo), mas sim a Santíssima Trindade, de uma só essência e numa delas o Deus Humanado. Tendo os cânticos e o bailado sido interrompidos, as santas luzes voltaram para nós a sua atenção.
Então, em meio ao silêncio que os dois coros fizeram surgiu a mesma voz que anteriormente narrara a vida do “Mendigo de Deus” (é a voz de Tomaz de Aquino  que falara sobre Francisco de Assis).
Falou: “Ao te esclarecer a verdade, muitas das tuas dúvidas foram solucionadas; porém o Amor divino me impulsiona a falar sobre as outras que ainda restam. Acreditas que no peito onde a costela foi tirada para formar os gentis lábios que pela culpa da gula e desobediência transformou em morte, a vida da humanidade inteira; (o peito de Adão, de cuja costela foi tirada Eva, a qual desobedecendo as ordens divinas, comeu a maçã que foi fatal para a humanidade); crês também nesse outro peito que, sofrendo rude golpe pela aguda lança a restituiu; e pela decisiva retirada do peso da culpa transformando a morte em vida, o equilíbrio da balança da Justiça Divina foi restabelecido. (Jesus Cristo cujo peito foi aberto pela lança).
"Quanta sabedoria poderia ser concedida à humanidade pela Inteligência Divina que existência deu a um e a outro. Foi esse o motivo de eu ter dito ‘tão profundo e extenso foi seu saber que a tão alto, na Terra, ninguém se elevou’ referindo-me ao quinto esplendor que aqui se encontra. (O rei Salomão). Agora fixa tua atenção em minhas palavras e irás compreender que a tua crença e a minha afirmação são tão exatas na mesma verdade, como o ponto que define o centro de um círculo. Explico-te: O que não morre (Jesus Cristo) e o que pela morte é consumido (Adão = o ser humano) são iguais em perfeição, pois foram gerados pela Ideia esplendorosa de Deus que, através deles, seu amor nos revela; por isso, essa luz viva vinda do Seu Foco e do qual não se desprende (o Pai), em si mesmo se Reflete e a Ele retorna como luz em espelho. Esse retorno é o Amor que existe entre o Foco (o Pai= O Primeiro) e o Reflexo (o Filho= O Segundo) que o Terceiro fica sendo (o Espírito Santo é o Amor que une o Foco ao Reflexo); em nove Céus se dividindo (os nove coros angélicos) mantém a Unidade eternamente inseparável (é a Santíssima Trindade). Daí vai baixando gradativamente às últimas potências, diminuindo tanto o ímpeto da benevolência, (a força da graça) que, ao final, vai gerando rápidas existências. “Existências” a palavra que indica todas as coisas criadas e que o Céu em seu movimento vai multiplicando, com ou sem semente. Nem sempre a matéria ou substância de que é composto o universo, mostra a ideia divina em relação a criação. Disso vem o resultado de que plantas da mesma família produzam frutos desiguais e que os homens nasçam com personalidades diferentes. Se a matéria fosse igual em toda a criação e se a graça vinda dos Céus não diminuísse em relação a cada ser criado, a virtude divina seria igual para todos (homens, plantas, animais, minerais, etc). A natureza, porém apresenta suas imperfeições tal como tal como o artista que, embora dominador de sua arte, ao executá-la treme-lhe as mãos. Por isso o ardente Amor Divino (o Espírito Santo) a Clara Visão (o Filho) e a Primeira das Virtudes (o Pai), portanto a Santíssima Trindade faz com que toda a criação se torne perfeita. A Terra foi criada com tal perfeição a fim de receber o mais perfeito dos animais (o ser humano) – e permanecendo perfeita concebeu a Virgem Maria da qual o corpo de Divino Filho seria formado. Nesse ponto concordo com o teu pensamento de que a natureza humana jamais apresentou e nem apresentará seres mais perfeitos do que nestas duas criaturas (Adão e Jesus Cristo). Se por ventura tivesse eu concluído aqui meu discurso, com razão me terias perguntado: como então, Salomão pôde ter sido igual a eles em sabedoria? Deves, pois, ser informado da verdade: imagines de quem se tratava e a quem Deus disse: ‘Pede’! Falei bem claro para que tua mente melhor compreendesse que foi o Rei quem pediu sabedoria para bem governar. Não quis ele saber qual a quantidade de inteligências angélicas que dão movimento aos Céus, nem se de uma proposição maior e outra menor, a comparação seja a base da conclusão; ou se de um triângulo sem ângulo reto, se pudesse traçar um semicírculo. Assim, entenderás que, referendo-me a sabedoria sem igual, falava eu dos reis, os quais sendo muitos, poucos são os sábios e prudentes.”
E continuou: “Tenhas sempre em mente as palavras que te disse; sirva-se delas como chumbo preso aos pés; não vás rápido demais ao fim; imitas o caminhante que lentamente andando chegou primeiro que o mais apressado. Não te precipites em dizer “sim” ou “não”, pois se revela o mais tolo entre os tolos, aquele que sem refletir, afirma ou nega. Daí vem muitas vezes o prejuízo causado pela opinião geral que julga pelo impulso da paixão e não da razão. Quem em vão do porto se desvia, não retorna ileso da jornada. Quem busca a verdade, mas sua virtude não pratica, corre o risco de se perder. A prova confirmada por fatos dão Paménedes, Melisso e Brisso (filósofos gregos, rebatidos por Aristótelis) e muitos outros que partiram nessa viagem sem saber qual rumo seguir. Assim fizeram Ario, Sabélio (herejes condenados pela Igreja) e tantos outros que, como espadas, mutilaram o sentido dos textos da Sagrada Escritura.
“Quem se apressa no julgar, imita aquele que pretende calcular o valor da safra de trigo quando a seara ainda não está madura. Durante o inverno vi ramos cobertos de espinhos, para dar castigo ao que imprudente, lhe os tocassem; depois, na primavera, vi que esses ramos lhe ofereciam belas rosas. Vi também barco a navegar feliz o imenso mar e naufragar ao se aproximar do porto já alcançado. Não queiram dona Berta e dom Marinho (nomes de pessoas comuns) que, embora um furte e outro dê esmolas, Deus vai antecipar seu julgamento. Pode ser que durante a jornada da vida um se erga e o outro caia".

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