O por quê da "Divina Comédia"

Desde criança sinto verdadeira atração pelas estrelas. Na fazenda de meu pai, - município de Itabuna – Bahia, não havia iluminação elétrica, por isso, enquanto meus irmãos sob a vigilância de meus pais brincavam como qualquer criança, eu, deitada sobre o gramado ficava a contar e descobrir novas estrelas. Achava lindo, o céu! O luar então me deslumbrava e ainda hoje me encanta. Meu pai, meu grande amigo, homem simples mas inteligente e culto, vendo meu interesse em conhecer os mistérios do Universo, me dava como presente tudo o que encontrava de interessante sobre o assunto, como mapas indicando a posição das estrelas e os nomes das constelações; e outros, dentre eles a “Divina Comédia”. Porém não conseguia ler seus versos; dizia que eram escritos “de trás para a frente”, mas sabia que Dante Alighieri tinha ido às estrelas. Então guardei o livro com muito carinho, pensando: quem sabe, um dia... Passaram-se 55 anos até que em Janeiro do ano 2.000, início do 3º milênio, me veio a inspiração: vou ler, e o que for compreendendo, vou escrevendo; tudo manuscrito. Meditei, conversei com Dante, pesquisei História Universal, Teologia, Religião, Mitologia, Astronomia... durante oito anos.
Agora, carinhosamente, quero compartilhar com vocês o resultado desse trabalho, que me fez crescer como mulher e espiritualmente. Espero que gostem.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

 

O PARAÍSO CANTO VII

HOSANNAH SANTUS DEUS SABAOTH..!”

Cantando desapareceram os bem aventurados. Beatriz explica como a crucifixão de Cristo restituiu no homem a dignidade perdida, a liberdade que  lhe foi conferida por Deus. Os anjos e homens por sua natureza são livres e imortais. O homem porém, pecando, abusou da sua liberdade e deformou a imagem de Deus que tinha em si. Não podia reparar a falta por si mesmo, pois não poderia humilhar-se tanto quanto Adão orgulhoso quis subir. A Deus convinha só punir. Na Sua sabedoria infinita Deus perdoou e puniu ao mesmo tempo. Puniu a humanidade em Jesus Cristo e Nele a fez novamente livre. Texto do Tradutor.

                                                     Ainda no 2º Céu = Mercúrio

“Hosannah Santus Deus Sabaoth, Superrillustrans Claritae Tua; felices ignes horum malacôth!” (expressão constituída por palavras latinas e hebraicas: “Salve Deus dos exército que iluminou com o teu clarão os felizes deste reino”).       Assim ouvi cantar essa venturosa alma em quem se percebia dupla luminosidade. Estavam todas juntas e felizes a dançar quais chamas fulgurantes, quando subitamente da nossa presença desapareceram. E eu sem nada compreender, cheio de dúvidas dizia a mim mesmo: “Pergunta à tua senhora de que se trata, pergunta! Pois sentes sede de seus esclarecimentos”. No entanto a perturbação tomou posse de mim impedido de falar; conseguido apenas balbuciar Be  iz, curvei a fronte como quem ao sono cede. Beatriz então me tirou daquela confusão. Resplandecente e com um sorriso que me iluminou a mente assim falou:

 “Vejo que a dúvida continua a dominar tua alma pois  estais a se interrogar: as faltas cometidas receberam da justiça divina a merecida punição? Mas não me custa te clarear o espírito. Presta atenção, pois a verdade das minhas palavras tem caráter de urgência! - Por não querer obedecer ao salutar comando, o homem nascido sem mãe (Adão) corrompendo a si corrompeu toda a humanidade. Durante muitos séculos enferma do pecado permaneceu ela prostrada no enorme erro até que o Verbo Divino foi encarnado pela ação do Amor Eterno (do Espírito Santo) unindo-se à criatura que havia se afastado do Criador.  

         “Continua prestando bem atenção no que estou a dizer: a natureza humana a quem complacente Ele se uniu foi criada perfeita leal ao Criador; mas, por livre vontade, fugindo loucamente do caminho da vida e da verdade do Paraíso Divino se afastou. Considerando-se a terrível situação em que se encontrava a natureza humana a quem Jesus assumiu, nesta circunstância a punição na Cruz foi a mais justa ao mesmo tempo que, nunca injustiça igual foi aplicada à Natureza da Pessoa Divina por ter se unido à natureza humana. No entanto esse ato justo e injusto teve consequências contraditórias. Por essa morte aliviados se sentiram os Judeus, jubiloso ficou o Céu e o universo apavorado; (a morte de Jesus Cristo causou alívio aos judeus pela raiva deles contra Jesus, satisfação a Deus porque reparava a ofensa de Adão, pavor ao universo pela crucificação de Deus e o alegria ao Céu porque ele  se abria novamente à humanidade). E não sintas estranha sensação por estar raciocinando se uma vingança que foi justa deveria ter sido vingada de outa forma. Vejo confusão em tua mente por estar entre dois pensamentos e para de um deles se libertar te causa grande esforço.     Poderás dizer – “na verdade entendo o que disseste; mas por que Deus em Seu ato de bondade para nos redimir escolheu esse modo tão cruel não compreendo!” – Esta determinação, caro irmão, está oculta à mente dos que ainda não desenvolveram a compreensão sobre a chama do Amor Divino. É mistério com que luta o pensamento sem conseguir vitória em tal polêmica. Mas foi o melhor modo.

“Ouve-me atento! A Divina Bondade que afasta de si o desamor,  ardorosamente resplandece e por eternas perfeições se faz conhecer. O que Dela diretamente tem origem é infinito; tudo o que do Seu  Supremo querer  vier fica eternamente impresso ficando assim livre  da influência de causas secundárias. Isso significa ter ele adquirido a plena liberdade de escolher o que mais lhe satisfaz  se estando em conformidade com sua essência. O Sublime Amor que resplandece em todas as coisas resplandece mais   naquele que contém esta excelência e somente ao ser humano pertence a partilha de tais bens.

“Porém se alguém apagar esse brilho pelo desrespeito às Leis Divinas (pelo pecado), sua nobreza decai  humilhante fazendo-o   descer dessa nobre altura nele não mais refletindo a luz do Supremo  Bem; D´Ele a semelhança não mais se apresenta e a Sua sublime grandeza não mais assume se não impuser resistência ao prazer do mal cumprindo justas penitências. Tendo todo o gênero humano ficado assim infeccionado pelo germe do pecado, dessa grandeza e do seu Paraíso foi deserdado só podendo reavê-los por um dos meios que com clareza aponto: ou Deus por bondade infinita perdoando, ou porque o homem por si próprio, convencido da sua culpa, peça o perdão.

“Para compreenderes bem a profundidade imensa dos tribunais eternos guardes na mente as razões que estou apresentando: Vivendo na eterna miséria, o ser humano não poderia curvar-se tanto humilde e reverente quanto em sua rebeldia quis se elevar. Eis porque redimir-se do pecado por si mesmo à ele seria impossível. Portanto foi do agrado Divino por clemência ou justiça e ambos juntando ter sido ele preparado para a vida eterna. Quanto mais a obra executada apresenta a ideia do autor mais feliz ele se sente; ainda mais quando  vem piedoso e  repleto de bondade se apresentando de dois modos (justo e misericordioso) pois somente por um  parece que não seria suficiente. Ato igual não se fez tão sublime e belo quanto esse; nem entre a noite final (Juízo Final) e o primeiro dia, (o dia da Criação) nem se faria. Deus Se fez mais generoso doando-Se porque deu condição ao homem de se erguer do que caridosamente o perdoando. Qualquer outro meio que empregasse não bastaria à Justiça Divina a não ser o Seu Filho se humilhando ao receber a natureza humana.

“Para de tudo seres doutrinado volto a um determinado ponto a fim de  que mais claramente vejas o que cuidadosa tenho te explicado. Então me dirás: - Se bem reparo no fogo e na água, na terra e no ar e em seus componentes vejo em todos eles rápidas alterações que os fazem durar pouco tempo. Sendo criações divinas  lógico seria estarem isentos de degradação se os princípios que expuseste repenetrassem a verdade”.

 Respondi: “Consideram-se irmãos os anjos, os homens e tudo o que há no universo inteiro devendo conservarem-se puros como foram criados. Os elementos por ti referidos  e os que deles derivam foram criados por influência das coisas  já existente mas oferecem traço de qualidade própria criada por eles e que se harmonizam. A lei divina criou-lhes a matéria criando logo a força participante que predomina nos astros que os cercam. Nossa vida vem diretamente do Supremo Bem (Deus)que em nós produz tal Amor que O faz desejar eternamente.

“Daí, por dedução, vem também vossa ressurreição se teu espírito considerar a perfeição do ser e a essência da natureza humana quando o primeiro par teve existência".

 

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