O por quê da "Divina Comédia"

Desde criança sinto verdadeira atração pelas estrelas. Na fazenda de meu pai, - município de Itabuna – Bahia, não havia iluminação elétrica, por isso, enquanto meus irmãos sob a vigilância de meus pais brincavam como qualquer criança, eu, deitada sobre o gramado ficava a contar e descobrir novas estrelas. Achava lindo, o céu! O luar então me deslumbrava e ainda hoje me encanta. Meu pai, meu grande amigo, homem simples mas inteligente e culto, vendo meu interesse em conhecer os mistérios do Universo, me dava como presente tudo o que encontrava de interessante sobre o assunto, como mapas indicando a posição das estrelas e os nomes das constelações; e outros, dentre eles a “Divina Comédia”. Porém não conseguia ler seus versos; dizia que eram escritos “de trás para a frente”, mas sabia que Dante Alighieri tinha ido às estrelas. Então guardei o livro com muito carinho, pensando: quem sabe, um dia... Passaram-se 55 anos até que em Janeiro do ano 2.000, início do 3º milênio, me veio a inspiração: vou ler, e o que for compreendendo, vou escrevendo; tudo manuscrito. Meditei, conversei com Dante, pesquisei História Universal, Teologia, Religião, Mitologia, Astronomia... durante oito anos.
Agora, carinhosamente, quero compartilhar com vocês o resultado desse trabalho, que me fez crescer como mulher e espiritualmente. Espero que gostem.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O INF - CANTO XXIV

 

O INFERNO - CANTO XXIV

"JUSTIÇA DIVINA, QUANTO ÉS SEVERA"

Encaminham-se os Poetas pelo rochedo e chegam ao sétimo compartimento, no qual estão os ladrões, os quais, picados por serpentes horríveis, incendeiam-se e depois ressurgem das cinzas. Entre eles Dante reconhece Vanni Fucci, o qual por desafogar o despeito de ser acolhido em tal vergonha e miséria, prediz-lhe a derrota dos Brancos .Texto do Tradutor

Naquela fase do ano em que o calor provenientes dos raios do sol se torna mais intenso e o tempo de duração da noite se iguala ao do dia  sob o signo de Aquário (solstício de verão); quando a geada matinal imagem perfeita de sua irmã a neve, imagem  que logo se desfaz, o pastor  levanta-se pela manhã disposto mas, ao ver toda a pastagem embranquecida desanimado volta a sua humilde morada como se toda a esperança já estivesse perdida; igual desânimo senti ao ver a fisionomia  preocupado de Virgílio. Também como o pastor momentos depois vendo que em breve o campo estará despido do triste manto branco, o alento recuperando disposto apodera-se do cajado reúne as ovelhas e ao verde campo se apressa, igual me senti ao ver o otimismo do meu guia; pois assim que chegamos à ponte em ruína, percebi o mesmo semblante meigo que nele vi, quando aflito eu estava ao pé da colina.

Cauteloso, ficou a examinar o estado em que se encontrava as ruinas; então estendendo os braços para que eu nele me apoiasse ergueu-me rápido. Como alguém que tem entre as mãos uma obra quase pronta e em outra já planeja, assim Virgílio: enquanto me ajudava em uma das rochas subir, atento, olhava para frente e para o alto, dizendo: “Agora, sobe mais! Antes, porém verificas se a rocha está bem firme! Tomai cuidado, pois com teu peso ela pode desabar”. 

        Apesar de Virgílio ser espírito - portanto sem peso algum - e eu sempre amparado, com muita dificuldade passávamos de uma saliência à outra. Se a rampa que subimos fosse mais longa, certamente eu teria ficado lá, porque não teria suportado o esforço.

         Que Malebolge se inclina em direção ao horrendo poço tivemos a prova pois, em cada cova uma das margens é subida, enquanto a outra é descida; e, olhando de cima, percebemos também que Malebolge tem o formato de um enorme cone. Tendo chegado ao ponto mais alto do penhasco me sentia tão cansado que não podia dar um passo a mais nem respirar direito tanto me doía o peito. E assim sentindo terem sido as forças, totalmente esgotadas, sentei-me!

        “Que é isso? Acabe com essa moleza!” – disse-me o Mestre ­­­– “Ninguém conquista os louros da vitória deitado sobre plumas. Aquele que a inércia se entregar nada de si deixa sobre a terra; sua lembrança desaparecerá como a fumaça no ar ou como a espuma sobre as ondas! Ergue-te pois! Afasta de ti esse cansaço! Recuperando as forças, o perigo vencerá. Das vitórias sobre os perigos, a maior é da vontade sobre corpo! Ter saído desse abismo, foi pouco; estejas ciente de que devemos subir muito mais alto ainda. Será em teu benefício se o que eu disse te convencer”. Levantei-me impulsionado pelo entusiasmo mostrando ao Mestre a coragem que não possuía dizendo: “Vamos! Já me sinto forte e corajoso”! .

        Subindo pelo áspero rochedo cujo caminho era mais estreito e muito mais difícil do que o outro, prossegui acompanhando os passos de Virgílio. Para provar ter ficado livre da fadiga eu ia conversando. Foi então que escutei uma voz vinda de outra cova; o que falava, não compreendi, porque me encontrava no ponto mais alto da ponte. Porém percebi que quem falava, estava muito irado. Curvei-me para ver o fundo do poço, mas era muito escuro e nada pude distinguir. Ao Mestre então disse: “Se queres, desçamos um pouco e adiante vamos, porque estou escutando uma voz, porém não compreendo o que diz; fito o olhar, mas nada vejo”! Respondeu-me: “Satisfaço os teus desejos declarando ser o teu pedido uma ordem; seja portanto ela executada e não, discutida!”.

Fomos à parte da ponte onde começava a oitava vala. De lá, podíamos vê-la inteira. Repleta de serpente que se enroscavam umas nas outras, horrível na infinita variedade, que só ao lembrar sinto o terror a gelar-me o sangue. Não tenha a Líbia vaidade de dizer que em seu território, tamanha quantidade de serpentes exista. Nem nas plagas do mar Vermelho, nem no centro da Etiópia, tão pavorosas espécies jamais alguém viu. Por entre essas atrozes e temerosas serpentes, corriam almas desnudas e apavoradas, sem esperança de ver a luz ou encontrar repouso. Algumas serpentes mantinham as mãos dessas condenadas, presas atrás das costas; outras apertando os rins entrelaçavam a cabeça e a cauda, que se uniam pela frente. De repente, uma serpente se lançou sobre um dos condenados que perto se encontrava picando o pescoço onde termina as espáduas; então mais rápido do que se pode traçar um O ou um I, o infeliz é incendiado. Imediatamente o pecador em prantos cai e se transforma em cinzas. E se encontrando desta forma no chão, as cinzas por si se unem e se transformam novamente no triste condenado. Nos escritos dos sábios narra-se que, ao se aproximar dos quinhentos anos, a Fênix morre e logo após renasce e, estando viva, alimenta-se apenas de lágrimas, de incenso e amônia; e em ninho de balsamo e mirra permanece até que se completem novamente mais quinhentos anos.

Meu Guia então, perguntou-lhe: Quem foste? ”E escutou essa resposta: “Faz pouco tempo que, da Toscana, cai nesse terrível abismo onde ninguém descansa. Tive a existência própria de um “mulo” (filho Ilegítimo), e pouco humana; chamei-me Vanni Fucci. (Vanni Fucci era filho ilegítimo de Fuccio de' Lazzari e militante ativo dos Neri de Pistóia. Era conhecido como um homem violento e depravado, mas que raramente era punido pois pertencia a uma família nobre e influente. Tornou-se ladrão e roubou o tesouro da Igreja de San Jacopo em Pistóia.) Pistóia foi meu covil, e de mim se orgulha”. Ao Mestre eu disse então: “Falta a ele se referir sobre o crime que deu causa a sua morte. Sei que sua mão funesta de ladrão, se banhou de sangue”.

O pecador - que me compreendera – não se irrita; rápido, volta para mim o rosto onde se percebe a tristeza e a vergonha, e diz: “Sinto mais a dor da vergonha por me veres no meio de tanta desgraça do que por ter sido levado pela morte. A resposta que desejas ouvir faço com desgosto. Aqui estou por ter roubado tesouros e ornamentos da Igreja. Preferia que, pelo meu crime, estivesse sofrendo tormento diferente. Porém, se deste antro saíres algum dia por não teres praticado do mesmo mal que eu, ouças bem o que anuncia minha voz!!! Se, de Pistóia o povo expulsar os Negros, serão então de Florença exilados. Num vapor em Magra navegando, Marte enviará por meio de escuras nuvens, alguém. Enquanto a tempestade está caindo no Campo de Picem, em combate serão feridos. Logo que a névoa desaparecer, verão que cada um dos “Brancos” estará ferido. Tenho a certeza de que esta notícia vos entristece”. (Vanni Fucci sabendo que Dante pertencia ao partido dos Brancos, prediz-lhe que os Brancos serão exilados de Florença e depois, derrotados em Campopiano.

 Em maio de 1301, os guelfos brancos (Bianchi) florentinos ajudaram os brancos de Pistóia a combater os guelfos negros (Neri), que então se refugiaram em Florença. Lá, eles se uniram ao partido negro de Florença e ajudaram a expulsar os brancos da cidade, com o apoio de Carlos de Valois).

 

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