O por quê da "Divina Comédia"

Desde criança sinto verdadeira atração pelas estrelas. Na fazenda de meu pai, - município de Itabuna – Bahia, não havia iluminação elétrica, por isso, enquanto meus irmãos sob a vigilância de meus pais brincavam como qualquer criança, eu, deitada sobre o gramado ficava a contar e descobrir novas estrelas. Achava lindo, o céu! O luar então me deslumbrava e ainda hoje me encanta. Meu pai, meu grande amigo, homem simples mas inteligente e culto, vendo meu interesse em conhecer os mistérios do Universo, me dava como presente tudo o que encontrava de interessante sobre o assunto, como mapas indicando a posição das estrelas e os nomes das constelações; e outros, dentre eles a “Divina Comédia”. Porém não conseguia ler seus versos; dizia que eram escritos “de trás para a frente”, mas sabia que Dante Alighieri tinha ido às estrelas. Então guardei o livro com muito carinho, pensando: quem sabe, um dia... Passaram-se 55 anos até que em Janeiro do ano 2.000, início do 3º milênio, me veio a inspiração: vou ler, e o que for compreendendo, vou escrevendo; tudo manuscrito. Meditei, conversei com Dante, pesquisei História Universal, Teologia, Religião, Mitologia, Astronomia... durante oito anos.
Agora, carinhosamente, quero compartilhar com vocês o resultado desse trabalho, que me fez crescer como mulher e espiritualmente. Espero que gostem.

domingo, 6 de janeiro de 2013

O PARAÍSO-CANTO VII

(Ainda em Mercúrio)
               
Hosannah Santus Deus Sabaoth, Superrillustrans claritae tua; felices ignes horum malacôth!”
(expressão constituída por palavras latinas e haraicas: “Salve Deus dos exércitos, que iluminou com o teu clarão os felizes deste reino”). Assim ouvi cantar essa venturosa alma em quem claramente se percebia dupla luminosidade; estavam todas juntas e felizes a dançar quais chamas fulgurantes, quando subitamente da nossa presença foram se afastando, até desaparecerem na distância. E eu sem nada compreender, cheio de dúvidas, dizia a mim mesmo: “Pergunta à tua senhora de que se trata, pergunta, pois já sentes sede de seus esclarecimentos”. No entanto a perturbação tomou posse de mim e a voz me impedia de falar; conseguido apenas balbuciar Be ou iz, curvei a fronte como quem ao sono cede.
Porém Beatriz, da confusão me tirava; resplandecente e com um sorriso que me iluminou a mente, assim falou: “Vejo que a dúvida continua a dominar tua alma, pois não consegues compreender como uma vingança que foi justa, pode depois receber digna punição da justiça divina! Mas não me custa te clarear o espírito. Preta bem atenção, pois a verdade das minhas palavras tem caráter de urgência. Por não querer obedecer ao salutar comando, o homem nascido sem mãe, (Adão) corrompeu a si e a humanidade. Durante muitos séculos, enferma do pecado permaneceu ela prostrada no enorme erro até que o Verbo Divino fosse encarnado pela ação do Amor Eterno, se unindo à criatura que se afastara do Criador pelo mal que praticara. Considera bem no que vou dizer: a natureza humana a quem complacente se uniu, foi criada perfeita, leal ao Criador; mas por livre vontade, fugindo loucamente do caminho da vida e da verdade, do Paraíso Divino se exilou. Considerando-se a situação em que se encontrava a humana natureza a que Jesus assumira, a punição na Cruz, nesta circunstância, foi a mais justa. Ao mesmo tempo nunca injustiça igual se praticou contra a natureza divina da Pessoa que tanto padeceu, por ter se unido à natureza humana.
 No entanto esse ato justo e injusto teve consequências contraditórias. Por essa morte, aliviados se sentiram os Judeus, jubiloso ficou o Céu e o universo apavorado; (a morte de Jesus Cristo deu satisfação a Deus porque reparava a ofensa de Adão; aos judeus pela raiva deles contra Jesus, o universo ficou apavorado pela crucificação de Deus e o Céu alegre porque se abria novamente à humanidade). E não te mova profunda sensação ao ouvir que uma vingança foi justa quando deveria ter sido vingada. Vejo confusão em tua mente por estar entre dois pensamentos e deles se libertar te causa grande esforço. Dirás então – “na verdade entendo o que disseste; mas por que Deus em Seu ato de bondade, para nos redimir, escolheu esse modo tão cruel, não compreendo!” – Esta determinação, caro irmão, está oculta à mente dos que ainda não desenvolveram a compreensão sobre a chama do Amor Divino. É mistério com que luta o pensamento sem conseguir vitória, em tal polêmica. Mas foi o melhor modo. Ouve-me atento! A Divina Bondade que afasta de si o desamor, se exalta, se resplandece e se faz conhecer por eternas perfeições. O que dela diretamente tem origem é sem fim; eternamente impresso fica, tudo do que no Ser Supremo esteja. Assim, não se torna o homem submisso à influência das causas secundárias. Isso significa ter ele adquirido a plena liberdade de escolher o que mais lhe satisfaz, se está em conformidade com a sua essência. O Sublime Amor que resplandece em todas as coisas, mais resplandecente é naquele que contém esta excelência. Cabe ao ser humano a partilha de tais bens.
Porém, um ser humano perde esse brilho, sua nobreza decai, se humilha; e somente o desrespeito as leis Divinas o faz descer dessa nobre altura; nele não mais reflete a luz do Supremo Bem. D´Ele a semelhança não mais se apresenta e a Sua sublime grandeza não mais assume, se não apresentar oposição ao prazer do mal. Tendo todo o gênero humano ficado assim infeccionado pelo germe do pecado, dessa grandeza e do seu Paraíso foi deserdado só podendo reavê-los – com certeza saberás se, prestares bem atenção -  intervindo um dos meios que com clareza aponto: ou Deus por bondade infinita perdoando, ou porque o homem por si próprio, convencido da sua culpa, peça o perdão. Para sondar a profundidade imensa dos tribunais eternos, fixe na mente as razões que meu discurso apresenta. Vivendo na eterna miséria o ser humano não poderia curvar-se tanto, humilde e reverente, quanto em sua rebeldia se elevar quisera. Eis porque, redimir-se do pecado, por si mesmo a ele não seria possível. Portanto, foi do agrado Divino por clemência ou justiça e ambos juntando, ter sido ele preparado para a vida eterna.
Tendo sido a obra executada ao gosto do Criador, ainda mais quando apresenta a imagem do sentimento, de que vem piedoso a brando, a bondade que em tudo se reflete, se oferece em nosso favor dos dois modos; somente um, bastar-lhe não parece.
Ato igual não se fez tão sublime e belo quanto esse; nem entre a noite final (Juízo Final) e o primeiro dia, (o dia da Criação) nem se faria. Deus se fez mais generoso doando-se, porque deu condição ao homem de se erguer, do que caridosamente o perdoando. Qualquer outro meio que empregasse não bastaria à Justiça Divina, a não ser o do Filho de Deus se humilhando, a natureza humana recebendo.
Para de tudo seres doutrinado, eu volto a um ponto, para que mais claramente vejas o que cuidadosa, tenho te explicado. Então me dirás: se bem reparo no fogo e na água, na terra e no ar e em seus componentes, vejo degradação que assola sem piedade – Respondo-te: na criação Deus ordenou: deverão ser isentos de deterioração, permanecendo perfeitos em sua matéria. - Sendo corretos os princípios a ti expostos, como irmãos se consideram os anjos, os homens e do universo, tudo o que há no espaço inteiro, devendo, conservarem-se puros, como foram criados. Elementos da natureza, e tudo o que nela permanece, oferecem traço de qualidade própria criada por eles e que se harmonizam. A lei divina criou-lhes a matéria criando logo a força participante que predomina nos astros que os cercam. Nossa vida vem diretamente de Deus, Supremo Bem, que em nós produz tal Amor, que O faz desejar eternamente. Daí, por dedução, vem também vossa ressurreição, se teu espírito considerar a perfeição do ser e a essência da natureza humana, quando o primeiro par teve existência".



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